segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Um matuto no Marrocos!


É entre um trabalho e outro que eu venho aqui falar um pouco de uma das experiências mais incríveis dessa minha “jornada” e, muito provavelmente, até da minha vida.

Começando pelo começo, vou falar um pouco das possibilidades de você pegar um voo da Europa e ir bater lá no norte da África, nesse caso, no Marrocos, afinal, não é todo mundo sabe que existe certa facilidade de pegar um avião aqui e chegar lá. Então, como eu expliquei no post de Barcelona a questão das companhias Low Cost, não vou ser repetitivo, vou apenas dizer que a Ryanair tem voos para Marrakesh partindo de várias cidades da Europa, no caso de Porto não tem (ou, pelo menos, não tem mais, pois a lenda diz que já houve essa ponte aéra), porém, tem de uma cidade portuguesa chama Faro que fica lá na região sul (Algarve), onde a Ryanair opera também. No nosso caso, não fomos por Faro, mas por Madrid. Usei o plural, porque, na verdade, eu fiz essa viagem com outros 16 brasileiros. Aliás, as meninas que tomaram a frente da “organização” foram muito competentes no quesito comprar passagens baratos em datas convenientes e reservar um hostel bom/bonito/barato pra todo mundo.

Então, não fomos todos os 17 no mesmo voo para Madrid, fui eu e outros 4 amigos. Sendo que já havia uma galera lá. Falando um pouco do nosso curto tempo em Madrid: chegamos lá quase no fim da tarde e ficamos até o outro dia de manhã, pois o voo era meio dia. Daí pegamos o metro de lá do aeroporto, fomos ao Centro da cidade, encontramos o pessoal que já tinha chegado, demos uma volta, comemos, alguns beberam e depois voltamos para o aeroporto para dormir no chão desconfortável e frio (muito frio) de lá. Não foi uma experiência legal, mas foi muito válida (sei lá porque, mas agora já posso dizer que dormi no chão de um aeroporto, isso deve ter algum status, haha). Enfim, no outro dia comemos qualquer porcaria barata no e embarcamos para Marrakesh! Falando um pouco da volta logo, foi BEM mais tranquila, pois esperamos pouco no aeroporto e foi tudo mais tranquilo.

Atenção: Como eu sou um cara extremamente didático e gosto que os seguidores do meu blog entendam bem o que eu quero passar, vou fazer o mesmo esqueminha de tópicos do post passado.

A chegada e o primeiro dia!

A parte boa do avião da Ryanair é que não tem esse negócio de marcar cadeira antes, é que nem o ônibus da Brasileiro de Pentecoste pra Fortaleza, sabe? Quem chegar primeiro é que tem o mando e senta onde quer. Então, como quem não quer nada, em todo viagem eu dou um jeito de ir na janela pra ir olhando tudo lá de cima. Nessa não foi diferente, pois a minha curiosidade já começava em ver a África lá do alto. Eu vi e, quando não tinha nuvem na frente, era basicamente deserto o que se via.
Vamos lá! Acho que o meu primeiro choque de realidade foi na aterrissagem, quando fomos descendo e eu vi de perto uma cidade inteira em tom de barro. O aeroporto era simples e a imigração foi tranquila (eu não sei como funciona para quem não tem visto europeu), lá dentro mesmo havia uma casa de câmbio, então todo mundo comprou os seus Dirham (10 Dirham = 1 Euro, aproximadamente). De lá, pegamos um ônibus e fomos direto à Jemaa el-Fna (a praça mais importante da cidade, ao que me parece) que fica dentro da Medina, que, para quem não sabe, é a cidade antiga, que fica contida nas muralhas e tem aquele labirinto todo, aqueles becos intermináveis e muitas (MUITAS) pessoas passando o tempo todo. O nosso hostel ficava perto de lá, só precisávamos entrar em alguns becos à direita e à esquerda e logo chegávamos (confesso que demorei um certo tempo até aprender o caminho). O prédio do hostel em si era muito engraçado, pois ficava em um beco que tinha menos de 1,5m de largura e pela porta do nosso D’maour Hostel eu tinha que passar um pouco agachado, pois eu com meus 1,74m não passava normalmente pois ela era um pouco pequena (acho que tudo na Medina funciona assim, meio tortuoso, meio feito às pressas, meio fora dos padrões), mas quando cheguei lá dentro pude ver com os meus próprios olhos um daqueles pátios que quase todos eles devem ter em suas residências (os que tem o mínimo de condições), que, na minha leitura, é uma maneira de eles escaparem do caos todo que existe lá fora, o espaço não era uma coisa como a da casa do tio da Jade, mas era bem agradável, eu curti muito (e recomendo a quem for, se hospedar lá – no esquema de quem é estudante/aventureiro claro).
Devidamente instalados, os 17 se dividiram eu não sei por onde, mas sei que eu e alguns outros fomos nos perder pela Medina. Foi a única coisa que conhecemos no primeiro dia (pelo menos o grupo que estava comigo), andamos feito uns loucos e vimos DE PERTO a cultura deles com tudo a que tínhamos direito: desde a  maioria das mulheres de burca (inclusive algumas com os olhos tapados) até alguns encantadores de najas tocando a flauta no meio da praça, tudo isso tem um cheiro/odor (não identifiquei bem) muito característico que nós apelidamos de “cheiro de Medina”, que parece uma mistura do cheiro pessoal deles junto à algum tempero que não sei bem qual é (isso mesmo que você leu). Confesso que, mesmo me interessando muito pela cultura deles, mesmo achando tudo aquilo meio que um sonho, eu fiquei um pouco chocado, um pouco assustado, acho que pela maneira que aquele CAOS ORGANIZADO funciona. É menino, é mulher, é cobra, é macaco, é cabra, é carneiro, é grito, é poeira na cara, é moto (em alta velocidade), é bicicleta, é gente pedindo esmola, é gente vendendo coisa cheia de mosca em cima, é cheiro de Medina, é vendedor falando francês, inglês, espanhol, italiano, é tudo isso em 10 minutos que você passa lá (eu passei umas 3 horas, dapi vocês tiram). De algo eu fiquei certo: ver no Globo Repórter é uma coisa, viver aquilo na real é outra coisa BEM diferente. Enfim, voltei pro hostel um pouco aliviado de poder descansar um pouco na paz naquele pátio e voltei também me indagando a respeito de algumas questões existenciais (o que é natural depois de tanta informação, haha).





Segundo dia!

Bem, nesse dia fomos para o outro lado, vimos uma Medina menos conturbada, saímos dela, visitamos uns palácios incríveis, umas ruínas de palácios também (neles haviam umas salas com exposição de artefatos antigos deles), outras praças, a Mesquita da Kutabia (a principal da cidade, que não tínhamos acesso, pois só os muçulmanos e homens podem entrar) andamos, andamos e andamos. Fomos, inclusive, ao palácio do atual Rei e lá o policial veio chamar minha atenção porque eu tirei foto do edifício, acreditam? Pois é, as coisas ficaram piores quando eu fui sentar lá por perto e ele veio reclamar comigo também. Na nossa conversa eu o mandei pra “p*** que pariu!” e ficou tudo resolvido (acho que não, em! haha). Resumindo, lá (nos jardins, próximo ao Palácio Real) você só tem ir direto e mal olhar para o lado e dizem, ainda, que quando o Rei está lá, essa área toda fica fechada e inacessível.






Terceiro e quarto dias no deserto do Saara!

Algumas empresas de passeios de lá trabalham em convênio com hotéis e hostels oferecendo os passeios e tal. Então, ainda nos dois primeiros dias conversamos com o tio lá e fechamos dois passeios, um para o deserto do Saara (dois dias) e outro para as cachoeiras que ficam no meio da Cordilheira de Atlas (um dia - depois de muita pechincha fechamos os dois por um preço muito bom).
Acordamos muito cedo no terceiro dia para pegar a estrada sem saber muito bem o que nos esperava pela frente, apenas sabíamos que o destino era o deserto e que, talvez, andaríamos de camelo (mesmo tendo certeza que andaríamos, na minha cabeça era algo meio louco ainda andar de camelo no Saara, meio surreal, por isso essa contradição). Enfim, acho que nem o mais otimista de nós achava que iria encontrar tão belas paisagens (e tão diferentes) em uma só viagem de carro (na verdade van/topic). É difícil descrever o que vimos em ~VÁRIAS~ horas de estrada, com algumas paradas para fotos, passando por tanta coisa legal e nova, pois atravessamos a Cordilheira de Atlas inteira e isso nos custou atravessar mais da metade do país (no sentido transversal), então a gente viu muita coisa da natureza local (montanhas com pico de neve, cachoeiras,  abismos, formações rochosas, deserto) e muitas cidadezinhas do interior (todas em tom de barro sempre com uma construção de mais destaque), daquelas que dá vontade de parar lá, conversar com o pessoal e passar um tempinho só observando. Aliás, foi o que eu fiz nas oportunidades que eu parei (conversei com alguns nativos e eles me disseram que esses prédios geralmente são dos chefes dessas “vilas” e que realmente é muito difícil uma mulher do interior não usar burca, questão essa que eu havia osbservado). Para vocês terem noção, fomos de Marrakesh à Zagora (vou postar um mapa). Chegando lá (depois de passar pela cidade), fomos para uma parte onde o deserto já começava a se mostrar de fato. Lá estavam todos nossos camelos, o que precisávamos fazer era, cada um escolher o seu, colocar as bagagens nas costas deles e ir embora (sendo puxado pelos carinhas de lá, claro).
Essa parte do passeio foi muito desconfortável (fiquei assado mesmo, vou logo dizendo), mas foi uma experiência única, não há do que reclamar. Além do mais pegamos o fim de tarde, todo mundo andando de camelo, naquela paisagem sensacional, com o por do sol no horizonte, a lua já aparecendo, enfim, aquele momento já valeu a viagem toda. Depois de mais de uma hora de camelo, chegamos ao meio do nada, onde só havia umas barraquinhas (muito bonitas e aconchegantes), nós, os carinhas dos camelos e outros gringos que compraram o passeio também (por outro meio). Eu preciso destacar que quando o sol já tinha ido por completo eu pude ver o céu mais estrelado e bonito de todos os tempos (nem lá no interior do interior, na casa do meu avô Manuel de Sales eu pude ver um céu tão bonito e tão estrelado daqueles, passei um tempão só olhando). Uma dessas barraquinhas era a cozinha de todo mundo, então eles serviram o jantar e depois deram uma demonstração de um pouco da cultura deles, cantando, dançando, convidando a gente pra dançar. Foi uma noite incrível, onde tivemos a chance de conversar com eles e conhecermos muita coisa da cultura desses nativos que tem contato com o deserto. Depois de curtir isso tudo, conversamos um pouco sob a luz das estrelas e com um friozinho acima do que eu esperava, eu fui dormir tranquilamente lá na barraquinha para no outro dia tomar café da manhã, pegar os camelos até a estrada e pegar a estrada até Marrakesh de volta. Tudo isso me deixou MUITO satisfeito e com uma sensação de que eu havia vivido algo muito especial.










Quinto dia e as cachoeiras!

O começo do dia foi muito parecido com o do passeio ao deserto. Todo mundo acordando cedo e correndo pelo hostel para estar pronto às 8 pra, então, poder pegar a van/topic do tio lá. O caminho não era o mesmo, mas também passava pela Cordilheira Atlas, ou melhor, era no meio dela. A paisagem continuava surpreendente, mas dessa vez passamos apenas 1 ou 2 horas viajando.
Quando chegamos podemos conhecer uma vila (não lembro o nome agora) que se margeava a beira do rio, tudo em um vale. Então de lá, um guia “se ofereceu” (entre aspas, porque cobrou 10 dirham de cada um) para nos levar pico à cima. Claro que fomos! Na verdade esse era outro passeio que ninguém sabia bem o que esperar, e que , pra pra ser sincero, ele foi muito surpreendente, não só pelas belezas naturais das cachoeiras, mas pela adrenalina de percorrer uma trilha próxima aos abismos, subindo por pedras escorregadias e coisas do tipo (tudo ocorreu bem e nada nos aconteceu, afinal, tinham vários dos nativos pelo percurso nos orientando e nos dando uma força quando era necessário). Depois de subir, subir e subir podemos ver algumas cachoeiras e até tivemos a chance de entrar em uma, mas eu achei a água muito gelada, daí claro que não entrei, mas como nordestino é o cão e na nossa comitiva tinham outros dois de Alagoas, eles foram, entraram e sobreviveram sem maiores sequelas. Depois disso subimos mais um pouco, vimos  outras paisagens incríveis e descemos, seguindo o percurso até retornar à vila. Acho que foi basicamente isso e eu já me sentia completamente satisfeito.







Conclusão

Acho que escrevi demais (haha). Também não podia ser diferente, acho que uma viagem dessa a um outro continente e a uma outra cultura tão diferente nos dá repertório para escrever um livro inteiro, mesmo com poucos dias de vivência. Acho que falei ainda nesse post que eu sempre tive interesse pela cultura islâmica, sempre achei muito bonita, muito misteriosa e muito rica. Eu jamais imaginaria que as coisas acontecessem na minha vida de tal forma que eu, de repente, pudesse ter vivenciado uma coisa tão grandiosa como imergir dessa maneira em, praticamente, “outro planeta” (se é que me entendem). Eu, na minha vida, procuro sempre agradecer mais do que pedir. Não faço isso porque alguém me disse que era correto, mas porque eu realmente acredito que as coisas acontecem da melhor maneira que poderiam acontecer (por mais que muitas vezes, no momento, pareça que não). Eu mandei esse sermão, basicamente, para compartilhar com vocês o desejo de agradecimentos que muitas vezes veio ao meu coração durante essa viagem e que, até, chegou a me emocionar. Eu usei a palavra "incrível" tantas vezes, porque é realmente a melhor definição dessa experiência, torno a dizer.
Enfim, acabei me aprofundando porque ir ao Marrocos não foi nada menos do que profundo, não foi nada menos do que, também, eu me voltar um pouco para mim mesmo e para meus princípios e aprender mais com tudo que eu vi de tão novo, de tão diferente. Eu espero que ninguém tenha chegado até o fim para ler essa minha viagem. Até a próxima! Devo voltar a falar de algumas coisas do Porto de novo (e vem mais viagem por aí!).

Presente do céu na volta do Saara.

OBS.: desculpem alguns erros de português tais como escrita ou concordância, ainda não tive tempo de revisar.

11 comentários:

  1. aiiiiiiiin que sonho! amo tudo que tu escrever! aproveita! saudades, beijo ;**

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  2. :O

    Não consigo nem comentar algo agora!
    Vou digerir, reler, e reler....
    depois eu volto ;)

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  3. Imagino esse sonho, quando você falou que ia fiquei meio tensa, você sabe, mas depois que foi me contando e eu vendo as fotos relaxei mais. Depois desse post então, criei vontade de ir, principalmente pro meio do deserto, viver uma experiência tão incrível (acho que realmente essa palavra se encaixa melhor). Adorei o post, você sempre sendo bem claro.
    Saudades, te amo ♥

    P.s.: Esperando pra ver outro post desse tipo "Um Matuto em/no ..." hahaha.

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    1. hahaha. essa preocupação besta todos nós temos. normal! :P
      valeu, linda! espero que venham muitos desse também. :D

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  4. Quando comecei a ler,fiquei me imaginando em Marrocos,vivenciando tudo o que a vida inteira sonhei,que é conhecer o velho mundo,as culturas antigas ,o povo árabe,o islã!!! Que bom vc ter realizado um dos seus sonhos,fico muito feliz por tudo que tu tens vivido!!!bjos !! há esqueci !!inveja viu# rsrsrs! te amo!!saudades !!Nirley Sales.

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  5. Eltin, um dos melhores posts :D
    Mas enfim, um dos lugares mais diferentes da nossa realidade e um os mais ricos em cultura também!
    Fico extremamente feliz por saber que você teve a oportunidade de vivenciar tudo isso e muito mais que as palavras não conseguem transmitir...passar uma noite no Saara..ual!
    O melhor de tudo é saber que você sabe valorizar cada aspecto cultural e sabe vivenciar cada momento!
    Feliz por você amigo!
    Escreva mais e mais :D

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  6. Amigooo, seu post foi muito divertido. Deu muita vontade de viver toda essa experiência com você! Ri alto em alguns momentos.

    Tenho muita vontade de conhecer o Marrocos e toda essa cultura. Espero ter essa oportunidade! Também acho tudo muito bonito :)

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  7. Caracaaaaa! Só agora tive tempo de ler! Mas valeu muito a pena! Queria muito poder ter vivido tudo isso com vocÊ!!! Adorei o post, realmente foi um dos melhores. Amei de mais as fotos, ficaram belissimas. Fico feliz por vocês. Beijãoooo. :)

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